sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O QUE MEU FILHO ME ENSINOU



Por: Maybelle Wilkes

Ele nunca disse uma palavra durante sua vida,
mas me ensinou mais do que todos os livros que já li.
Ele nunca deu um passo, mas me elevou a patamares
que jamais teria alcançado sozinha.
Ele viveu apenas poucos anos, mas vive eternamente
em todas as crianças que encontro.
Quem pode dizer que ele foi um peso, quando me enriqueceu tanto?

Naquela distante manhã, esperava tensa para que o famoso pediatra comunicasse os resultados dos exaustivos exames feitos em Robert, meu filho de um ano de idade. Ele segurou bondosamente minhas mãos e falou sem pressa: "Senhora Wilkes, este é o tipo de coisa que odiamos dizer para a mãe. Robert tem paralisia cerebral; o dano no cérebro é intenso; a coordenação muito pobre. Ele não poderá fazer muita coisa por si mesmo, sua digestão é falha, ele poderá sofrer muita dor."

Perdi o fôlego. "Ele é inteligente. Ele sorri para mim. Ele tem de ser normal...Ele é tudo que tenho; eu não suportaria." Chorei desesperadamente. "Ele está cansado, cansado, cansado." Minha histeria aumentou.

O médico me abraçou e disse com carinho: "Ele nasceu com inteligência, mas por favor, não conte com nenhuma recuperação. Tente não se destruir. Meu conselho seria colocar seu filho em uma instituição onde ele será bem cuidado."

Entretanto, levei meu filho para casa e comecei a longa e difícil tarefa de cuidar de uma criança desamparada e angustiada. Eu era uma jovem viúva e não tinha recursos para obter ajuda.

No início eu não admitia que meu lindo filho fosse diferente. Desgastei-me de tão inconformada.

Depois começaram as lições que ele me ensinou — as longas, longas lições.

Após as exaustivas noites, repletas de dor e infelicidade, olhava para meu filho e sobre seu rostinho cansado aparecia um radiante sorriso. Se ele podia sorrir, pensei, eu poderia também. Era tão pouco para dar, quando isso para ele significava o mundo. Então sorrimos juntos — minha primeira lição.

Depois aprendi que ele reagia a uma voz alegre. Lia histórias alegres para ele, falava dos pássaros e trazia pequeninos animais para ele ver e tentar manusear. E ele adorava cores. Ríamos juntos, a amargura se dissolveu e a vida melhorou.

No começo, eu havia me afastado das outras pessoas pelo choque e pelo orgulho. Meus jovens e animados amigos se distanciaram, mas descobri que atraíamos pessoas com coração especial — cujo olhar e sorriso diferente são sinais de quem carrega, ou já carregou, uma pesada cruz com muita coragem.

Médicos eram bondosos, sempre dispostos a ajudar. Carregavam Robert nos braços e eram muito amorosos quando viam em seus olhos a gratidão pelo carinho. Então aprendi a aceitar e a ser humilde. As lições continuavam.

Um reitor numa pequena paróquia — que nunca pôde ter uma paróquia maior porque sua esposa era uma incorrigível alcoólatra — durante algumas noites ficou cuidando de Robert comigo. Quando viu a angústia, disse: "O inferno aparece de várias maneiras." Com sua ajuda encontramos uma casinha com jardim, onde podia deixar Robert ao sol enquanto trabalhava.

Depois percebi como ele atraía as pessoas. Elas vinham devagarinho e pareciam sentir o seu espírito. Apesar de fraco, ele compreendia o infinito.

Havia o dono de uma fábrica, um homem alto de aparência orgulhosa. Me incomodava cada vez que ele cruzava com arrogância a nossa estreita rua.

Uma manhã o vi olhar para meu filho. No dia seguinte, ele acenou. Robert sorriu. Eles esperavam um pelo outro. Por fim, ele entrava em nosso jardim, na ponta dos pés, e falava com Robert suavemente e sorria carinhosamente.

Robert inclinava sua cabeça para receber uma carícia ou um beijo. Quem diz que eles não sabem? Uma vez fui até o jardim e o senhor me disse humildemente: "Acho que ele me ama."

Um dia, ele se ajoelhou ao lado da cadeira de rodas, abriu um cesto e tirou um lindo cachorrinho branco. Ao ver a expressão de êxtase no rosto de Robert, o senhor se voltou para mim com os olhos cheios de lágrimas e disse: "O que eu não daria para ajudá-lo como ele tem me ajudado."

Então aprendi a não julgar, mas a olhar dentro do coração da pessoa.

Porque Robert amava música, continuei minha prática e tocava e cantava para ele. Fizemos amigos. Depois, finalmente encontrei Deus. Ele caminhou conosco pelos vales mais escuros. Nunca mais estivemos sós. Aprendi a ter paciência e confiança.

Os anos se passaram. Robert tinha seis anos. Ele começou a definhar e estava ficando mais difícil levantá-lo e carregá-lo. Fiquei cansada demais para continuar. O médico insistiu para que ele fosse internado em uma instituição. Não queria torná-lo tão infeliz nos dias que lhe restavam. Temia a separação. Pedi a Deus que não nos separasse durante a vida. Deixei em Suas mãos.

Antes que a internação fosse realizada, Deus abriu o portal de uma vida maior para meu pequeno filho.

As lições terminaram.
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