terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pesquisa de cientista português descobre terapia contra tipo de cegueira

Iniciada há 20 anos, ela pode reverter perda de visão causada pela coroideremia; técnica pode ajudar em outros casos, mostram estudos

Uma pesquisa iniciada há 20 anos pelo médico português Miguel Seabra, 51, resultou na descoberta de uma terapia genética para reverter a perda de visão progressiva causada pela coroideremia, uma doença hereditária até o momento sem cura. Os resultados clínicos iniciais, publicados na prestigiosa Lancet, sugerem que o mesmo tipo de terapia poderia ser aplicada em casos mais comuns de cegueira – como a degeneração macular relacionada com a idade, a terceira principal causa de deficiência visual no mundo.


Cirurgia feita na Universidade de Oxford, em Londres, em paciente em tratamento com a terapia

O tratamento consiste em substituir os genes CHM, defeituosos em pessoas com coroideremia, por cópias saudáveis. O processo é feito por meio de uma cirurgia que descola a retina e introduz um vírus inofensivo portador das cópias genéticas. Uma vez na retina, o gene saudável produz proteína e impede o processo de deterioração das células fotorreceptoras. É a primeira vez que uma terapia genética é aplicada nas células humanas sensíveis à luz.

Para chegar a esse tratamento, foi preciso primeiro decodificar a função do gene responsável pela patologia e estudar seu mecanismo em ratos de laboratório – processo que rendeu a Seabra o prêmio “Seeds of Science” em 2012. “Os resultados superaram nossas expectativas”, comemorou Seabra em entrevista a Opera Mundi. “Em apenas vinte anos partimos da detecção do gene para o tratamento da doença, isso é encorajador”, afirmou. O português foi o líder científico da fase pré-clínica do projeto, cujos testes em humanos foram desenvolvidos na Universidade de Oxford, sob comando do oftalmologista Robert McLauren.

Todos os seis pacientes entre 30 e 63 anos que se submeteram à cirurgia apresentaram melhoras, sendo inclusive revertidos os danos à visão daqueles cuja doença estava mais avançada. Ainda não há certeza se os efeitos serão definitivos – mas têm permanecido estáveis há pelo menos dois anos, tempo em que o primeiro paciente começou a ser acompanhado.


O desafio em Portugal

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, Seabra desenvolveu sua  carreira – e sua notória pesquisa – no exterior, e hoje tem mais de 100 artigos científicos publicados e 7.500 citações de trabalhos de sua autoria. Concluiu o doutorado na Universidade do Texas, onde também foi professor. Tornou-se docente titular no Imperial College de Londres -cotada entre as dez melhores universidades do mundo-, antes de regressar a Portugal.

[Miguel Seabra também preside agência de formento à pesquisa em Portugal]

Desde 2012 preside a agência nacional de fomento à pesquisa no país (na sigla, FCT). É precisamente no cargo que Seabra tem acumulado críticas da comunidade científica portuguesa, descontente com a fuga de cérebros do país e os cortes ao número de bolsas concedidas – que chega a 40% nos níveis de doutorado e 65% de pós-doutorado em relação a 2013. Não há informações oficiais sobre desemprego ou emigração científica.

“Queremos um sistema mais competitivo”, defende Seabra. A estratégia é diminuir a dependência dos cientistas do Estado e incentivar a competitividade e a busca de financiamento em empresas ou editais internacionais. Isso se reflete nas taxas de aprovação nos concursos nacionais para bolsas, que caiu de cerca de 40% para menos de 10%. De outro lado, pesquisadores e associação de bolsistas têm se contraposto a tal política, alegando ser penosa à ciência a médio e longo prazo, além de não resolver – e, em alguns casos, piorar – a burocracia.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/33899/pesquisa+de+cientista+portugues+descobre+terapia+contra+tipo+de+cegueira.shtml

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