sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Soluções simples dão segurança a deficientes visuais

Repórter da BBC Brasil explica por que Londres é uma das cidades mais acessíveis do mundo para cegos e deficientes visuais.

Pais de crianças autistas divergem sobre educação especial

Familiares de pessoas com autismo estão organizando, para daqui a duas semanas, um grande ato, em Brasília, para pressionar o governo pelo direito de educarem seus filhos em casa ou em instituições específicas.

O movimento encontra resistência dentro do próprio universo de pais com filhos autistas. Há associações que defendem que o caminho para a maior socialização é por meio da educação regular.

A divisão veio à tona após a presidente Dilma vetar, na lei que iguala direitos de autistas aos de demais pessoas com deficiência, trecho que deixava aberta a possibilidade de a educação do grupo ser realizada de acordo com necessidades específicas.

"O autismo se manifesta em diferentes graus, o que vai gerar demandas diferentes. Não é possível tratar tudo na mesma normativa", diz Berenice Piana, mãe de um jovem com autismo e uma das principais responsáveis pela aprovação da lei.

Entre as alegações dos que apoiam a educação segmentada estão a exposição dos filhos ao bullying, a falta de estrutura e capacitação de professores nas escolas regulares e a imprevisibilidade das ações das crianças, que podem inclusive ser violentas, dentro da sala de aula.

Apaes em todo o país dão fôlego ao pleito de quem defende a educação especial. A instituição é a mais tradicional do país no trato com pessoas com deficiência intelectual tanto em aspectos educacionais como em terapias.

RECURSOS

Pelo Plano Nacional de Educação, em avaliação no Congresso, instituição nenhuma poderá, a partir de 2016, receber recursos públicos para fornecer ensino exclusivo a grupos com deficiência como autistas, downs ou paralisados cerebrais, como no caso das Apaes.

"O mundo moderno exige toda criança na escola e o governo investiu em leis e procedimentos que levassem o país a esse patamar. Se a criança não puder ir à escola por motivos médicos sérios, a escola deve ir à criança", afirma o psicólogo Manuel Vazquez Gil.

Ele tem um filho com autismo em grau severo e que estuda no ensino regular.

O MEC (Ministério da Educação) defende que é inconstitucional a manutenção das escolas especiais, uma vez que o Brasil é signatário de convenção internacional que determina a educação inclusiva, fornecendo os governos as condições para isso.

"Os pais precisam ter o direito de escolha de onde querem educar seus filhos. Eles são os melhores especialistas, vivem o problema no dia a dia", declara Piana.

Na política de educação inclusiva do MEC estão previstas ações "intersetoriais" para atender os casos mais graves de pessoas com deficiência na escola, que envolvem auxílio de acompanhantes, atenção à saúde e ensino complementar.

Os contrários à obrigatoriedade do ensino regular afirmam que, na vida prática, a educação inclusiva não tem efeito para pessoas com autismo em grau severo, que não aprendem à contento e na escola ficam longe de cuidados da família ou de profissionais habilitados.

A secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Linamara Battistella, avalia que o debate em torno da educação de autistas não pode ser generalizado e precisa de mais espaço.

"O conceito da educação inclusiva é para o que trabalhamos, mas é preciso particularizar o que exige um cuidado diferenciado. Em caso de autistas com grave dependência, talvez a escola convencional não seja o melhor lugar."

Já a secretária municipal da mesma pasta, Marianne Pinotti, defende que a escola regular crie condições, com a ajuda dos pais e de especialistas, para o atendimento de qualquer criança, de acordo com suas necessidades.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1328082-pais-de-criancas-autistas-divergem-sobre-educacao-especial.shtml

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Deficiente visual recebe computador adaptado

O equipamento irá auxiliar no desenvolvimento de Lucas dos Santos

Após seis anos de espera o deficiente visual Lucas dos Santos, 14 anos, conseguiu o tão desejado computador para realizar suas atividades e auxiliar no seu aprendizado. Sua mãe, Janaína dos Santos, procurou o deficiente visual Alcemar Lemos que com a ajuda de Rose Stecker realizaram uma parceria. Eles visitaram o comércio de Sobradinho e conseguiram doações para serem sorteadas em uma rifa.

Com o dinheiro arrecado foi possível adquirir um computador com dois programas de voz que irão possibilitar ao adolescente sua inclusão digital e seu desenvolvimento. Foram compradas ainda uma cadeira, rack e impressora multifuncional. Segundo Alcemar essa é uma conquista depois de tanto tempo de luta. Rose agradeceu a todas as pessoas que ajudaram de uma forma ou de outra para tornar o sonho em realidade. “Nosso objetivo é ajudar as pessoas e auxiliar no que for possível”, disse Rose.

ROBERTO TONELOTTO

redacao@gazetadaserra.com.br

Foto: Gazeta da Serra/Roberto Tonelotto

China impede crianças com deficiência de terem acesso à educação, informa organização de direitos humanos

De acordo com relatório, escolas estão barrando estudantes com autorização do governo

Leitura Braile

Segundo a organização, governo chinês passou diretrizes que permitem a instituições de ensino restringir ou barrar o acesso de estudantes com deficiências físicas ou mentais

Crianças com deficiência enfrentam obstáculos significantes no acesso à educação na China, e um número considerável delas sequer recebe instrução. É o que aponta relatório do Human Rights Watch, organização internacional independente voltada à defesa e à proteção dos direitos humanos.

De acordo com informações publicadas no site da organização, o governo chinês passou diretrizes que permitem às universidades restringir ou barrar o acesso de candidatos e estudantes com determinados tipos de deficiências físicas ou mentais.

Segundo apurou a organização junto ao governo local, existem pelo menos 83 milhões de pessoas na China com algum tipo de deficiência. Mais de 40% delas são analfabetas. Ainda de acordo com o relatório, enquanto o governo chinês tenta mostrar que todas as crianças estão matriculadas na escola primária, entre as  deficientes, segundo o relatório, 28% não têm acesso à educação à qual teriam direito.

O documento, de 75 páginas, informa quais são os problemas enfrentados por crianças e jovens com algum tipo de deficiência nas grandes escolas de suas comunidades. O material foi baseado em mais de 60 entrevistas, em sua maioria com crianças e jovens portadores de deficiência e seus pais, além de tomar como base dados do governo.

O governo chinês adotou regulamentações e regras para a educação de portadores de deficiência, prometeu aumentar a taxa de matrícula de crianças e cancelou mensalidades escolares para algumas delas. No entanto, segundo o relatório, algumas escolas estão negando a admissão desses estudantes, pressionando-os para sair ou até mesmo deixando de fornecer salas de aula apropriadas para ajudá-los a superar as barreiras relacionadas às suas deficiências.

Sophie Richardson, diretora da Human Rights Watch na China, confirmou que as escolas têm recusado o atendimento às crianças com deficiência.

— As crianças com deficiência têm direito de serem atendidas em escolas regulares como todas as outras crianças, e têm direito a suporte para suas necessidades específicas de aprendizagem. Mas em vez disso, algumas escolas falham ou simplesmente recusam providenciar a esses estudantes o que eles precisam.

Em uma decisão importante, o governo chinês confirmou A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (ou CRPD, na sigla em inglês) em 2008, que obriga o desenvolimento de um sistema de educação inclusivo no qual o modelo é totalmente acessível a crianças com deficiência e no qual elas brincam e aprendem juntamente com outras crianas. Pesquisas revelaram que estudantes portadores ou não de deficiência obtêm melhores resultados acadêmicos em ambientes inclusivos, quando recebem suporte adequado.

Atualmente, crianças deficientes são excluídas das escolas regulares a menos que consigam demonstrar "habilidade para se adaptar" ao ambiente físico e ao modelo de ensino das instituições. Embora um modelo inclusivo não possa ser estabelecido da noite para o dia, o governo chinês não possui uma estratégia clara e consistente na direção da inclusão, e emprega poucos recursos para educar estudantes com deficiência nas escolas regulares.

O estudo revela também a falência da Federação Chinesa das Pessoas com Deficiência e do ministro da Educação local, em combater a discriminação, garantir acomodação razoável nas escolas regulares e informar pais e crianças com deficiências de seus direitos e opções educacionais.

A organização internacional afirma que a China descumpre o estabelecido na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência) e pede que o governo local estabeleça uma política de acomodações em sala de aula de acordo com a convenção, que apresente um mecanismo de monitoramento e forneça uma reparação efetiva em casos de discriminação, além de desenvolver programas de extensão para apoiar os pais das crianças com deficiência para que sejam informados sobre os direitos de seus filhos e opções de educação.

Fonte: http://noticias.r7.com/educacao/noticias/china-impede-criancas-com-deficiencia-de-terem-acesso-a-educacao-informa-organizacao-de-direitos-humanos-20130717.html

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA PODERÃO TER PRIORIDADE NA RESTITUIÇÃO DO IR

O relator na comissão destacou que o texto concede às pessoas com deficiência um certo “alívio financeiro”

O relator na comissão destacou que o texto concede às pessoas com deficiência um certo “alívio financeiro”O relator na comissão destacou que o texto concede às pessoas com deficiência um certo “alívio financeiro”   

  A restituição do Imposto de Renda (IR) de pessoas com deficiência poderá ter prioridade. O projeto de lei (PLS 571/2011) do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), foi aprovado nesta terça-feira (20) pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
O relator na comissão, senador Benedito de Lira (PP-AL), destacou que o texto concede às pessoas com deficiência, que costumam ter um gasto elevado com saúde, um certo “alívio financeiro”.
O substitutivo aprovado incorporou uma emenda da Comissão de Direitos Humanos que mudou a denominação dos beneficiários no texto original – de “portadores de deficiência física” para “pessoa com deficiência”. “O substitutivo aumenta a abrangência do incentivo, pois inclui outros tipos de deficiência, como a mental, que merecem atenção do Poder Legislativo”, ressaltou o relator.
Como foi aprovado o substitutivo, o projeto precisa de um turno suplementar de votação na CAE, antes de seguir para a Câmara dos Deputados.
Agência Brasil

Leia Mais sobre a Notícia nesse Link: Pessoas com deficiência poderão ter prioridade na restituição do IR | UltimoInstante : Notícias de Hoje

Governo investe R$ 60 mil ao mês para oferta de equoterapia

A vida de 270 crianças e adolescentes com deficiência ganhou um sentido especial nesta segunda-feira (19). Por meio de um Termo de Compromisso, o Governo do Estado irá financiar o serviço de equoterapia na Associação Pestalozzi de Maceió e na Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal). A parceria firmada visa proporcionar qualidade aos praticantes, com investimento total de R$ 60 mil/mês, durante o ano de 2013. Serão destinados R$ 39 mil/mês para Pestalozzi e R$ 21 mil/mês para Adefal.

Para assinar o termo, o governador Teotonio Vilela Filho e o secretário de Estado da Saúde, Jorge Villas Bôas, estiveram nas duas entidades, onde visitaram a estrutura existente e conversaram com os praticantes e familiares. Na oportunidade, o governador foi recebido pelo grupo Afrolozzi, assistiu ao balé especial e conheceu o trabalho desenvolvido pela equoterapia. Segundo Teotonio Vilela Filho, o carinho e dedicação dos pais e profissionais estimulam a apoiar iniciativas como essas, que aprimoram a saúde dos praticantes da atividade.

“Tudo que for necessário às pessoas que precisam dos serviços da Pestalozzi, e estiver ao nosso alcance, iremos fazer para garantir a qualidade de vida desses 170 praticantes da equoterapia. Sabemos que esse investimento de R$ 238,8 mil será entregue em boas mãos”, discursou o governador, que mencionou ainda o quanto é importante a interação com os animais para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Para os pais que acompanham os filhos, o tratamento é fundamental para melhorar o desempenho deles no dia a dia. “O meu filho já desenvolveu o conhecimento sobre as cores, letras e números. A equoterapia tem melhorado o desempenho, a aprendizagem e o convívio social dele, que está muito feliz em participar”, disse a pedagoga Rosileide Nascimento, mãe de Thiago Augusto, que tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e deficiência mental leve.

“Esse foi o único governo que teve a sensibilidade de entregar cadeiras especiais. No dia 26 de agosto, durante a Semana Estadual da Pessoa com Deficiência, mais 18 cadeiras serão entregues, beneficiando ainda mais quem precisa dos cuidados”, falou a vereadora Tereza Nelma.

O secretário Jorge Villas Bôas destacou que o termo ampliou de 120 para 170 o número de beneficiados com o serviço na Pestalozzi. “Outra boa notícia é que o processo de licitação para o ecocardiógrafo – instrumento registrador do ecocardiograma – já foi finalizado e ainda esse mês a empresa vencedora do processo licitatória vai entregar o equipamento à Associação Pestalozzi de Maceió”, informou Villas Bôas.

Para a presidente da Pestalozzi, Tereza Amaral, a preocupação da entidade está em dar um bom atendimento àqueles que precisam dos cuidados. “Com o termo de compromisso, agora vamos atender mais e de forma mais qualificada, por uma equipe de profissionais comprometida com o trabalho”, falou.

Adefal – Cerca de R$ 21 mil/mês será investido para os cuidados com o serviço de equoterapia de 100 crianças, fortalecendo a Adefal na melhoria do trabalho de atenção à saúde da pessoa com deficiência.

A deputada federal Rosinha da Adefal enfatizou que a luta é incansável e constante para que a sociedade reconheça as pessoas com deficiência de forma inclusa. “Somos também pessoas de direito”, afirmou a deputada.

Após a assinatura do termo de compromisso, o governador conheceu as dependências da Adefal. Também participaram da solenidade o vice-governador José Thomáz Nonô; o presidente da Adefal, Luiz Carlos Santana; o deputado estadual Jeferson Moraes; a diretora técnica da Adefal, Zelda Pedrosa; o vice-prefeito de Maribondo, José Batista; e o presidente da Federação das Entidades de Pessoas com Deficiência de Alagoas, João Pereira.

Equoterapia - É uma atividade que exige a participação do corpo inteiro, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio. A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, o ato de montar e o manuseio final, desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima.

Fonte: Agência Alagoas

Menor deficiente obtém isenção de impostos para compra de veículo

Justiça de Goiás concedeu parecer favorável a ação de garoto de 12 anos.
Secretaria da Fazenda havia negado, alegando ele ainda não pode dirigir
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A Justiça de Goiás reconheceu o direito de um menino de 12 anos, portador de necessidades especiais, de obter junto à Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz) a isenção de impostos para a compra de um veículo. Mesmo sem ter idade ou condições para conduzir o carro, os juízes entenderam que a negação de tal benefício “fere os princípios da dignidade humana”.

A decisão unânime, tomada por três magistrados da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), divulgada nesta semana, acatou o voto do relator do caso, o juiz substituto em segundo grau, Wilson Safatle Faiad. Ele pediu a dispensa de cobrança do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para o menino.

Segundo Faiad, o fato de não ter idade para dirigir não indica que o garoto não será o principal beneficiado pelo transporte. “O bem-estar do menor será profundamente afetado em função da aquisição do veículo. A Secretaria da Fazenda não pode negar que ele se enquadra nos requisitos para obtenção da isenção de impostos, apenas com a alegação de que ele não está apto a dirigir”, explicou.

A família do menino, que tem deficiência física e mental, entrou com a ação na Justiça em maio de 2012, quando o não pagamento de impostos ainda não era previsto no estado. No entanto, em janeiro deste ano, um convênio feito pelo governo passou a liberar a cobrança do ICMS para as pessoas, portadoras da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), com algum tipo de necessidade especial, de acordo com informações da Sefaz.

Apesar da medida, a isenção do IPVA ainda não é assegurada pelo convênio e só pode ser obtida por meio de ações na Justiça. “Cada caso tem que ser analisado isoladamente”, explicou o auditor fiscal da Gerência de Orientação Tributária da Sefaz, Jomar Vilar Carvalho.

O fato de não dirigir não indica que o menor não se enquadra nos requisitos"

No caso do menor que obteve parecer favorável do TJ-GO, o juiz estabeleceu a isenção tanto do ICMS quanto do IPVA. “A Sefaz acatou a decisão liminar e a família do menino já comprou o carro. Os documentos estão devidamente legalizados”, ressaltou o auditor fiscal.
Em média, a isenção do ICMS representa uma redução em torno de 12% do valor total do veículo. Já a isenção do IPVA varia de acordo com a marca, modelo e ano, segundo Carvalho.

Exemplo
Para o juiz, a decisão pode servir de paradigma para futuras ações. “As pessoas com deficiência não sabem que têm direito de não pagar alguns impostos. Com certeza a sentença será pedagógica para outros casos semelhantes no estado”, disse Faiad.

Ainda de acordo com o juiz, muitos portadores de necessidades especiais vivem com poucos recursos e precisam dos benefícios para conseguir comprar um carro. “Com certeza a aquisição do veículo vai promover uma integração social, que afetará diretamente o desenvolvimento das aptidões e personalidade desses indivíduos”, concluiu.

Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/08/menor-deficiente-obtem-isencao-de-impostos-para-compra-de-veiculo.html

Pessoas com deficiência terão 13,7 mil vagas em cursos do SENAI pelo Pronatec

Fonte: Portal da Indústria - 20/08/2013

Matrícula, mensalidade, transporte, alimentação e material didático são custeados pelo governo federal.

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) vai oferecer 13,7 mil vagas em cursos de formação inicial e continuada ou em cursos técnicos de nível médio para pessoas com deficiência. Os cursos são gratuitos e integram o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Além da matrícula e das mensalidades gratuitas, o Pronatec oferece aos estudantes transporte, alimentação e material didático.

Os interessados podem se inscrever pela internet na página pronatec.mec.gov.br, onde está a lista das opções disponíveis, ou procurar instituições como os Centro de Referência de Assistência Social (Cras), as secretarias municipais de direitos humanos e as agências do Sistema Nacional de Emprego (Sine), responsáveis por encaminhar os pedidos de matrículas para o SENAI. Quem for estudante do ensino médio de escolas públicas deve procurar a secretaria das escolas.

De janeiro até agora, já foram realizadas cerca de 1,3 mil matrículas em cursos como costureiro industrial, padeiro/confeiteiro, operador de computador, eletricista industrial, entre outros, oferecidos nos 26 estados e no Distrito Federal. As aulas – em turmas inclusivas, das quais participam estudantes com deficiência e os outros alunos – contam com professores qualificados para lidar com diversos tipos de deficiência, além de material didático adequado à situação de cada estudante.

A coordenadora do Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI), Adriana Barufaldi, lembra que a qualificação profissional tem importância não apenas por melhorar as condições para se conseguir emprego. “A formação abre possibilidades para que a pessoa com deficiência passe a investir em várias áreas da própria vida. Para a sociedade, conseguimos transformações culturais, na superação de preconceitos e de barreiras arquitetônicas, metodológicas e comunicacionais”, avalia.

EXPERIÊNCIA – Nos últimos seis anos, o SENAI formou 78,3 mil pessoas com deficiência. As matrículas anuais saíram de 10 mil, em 2007, para 17 mil no ano passado. Esse incremento é resultado do esforço do PSAI. Criado em 1999, o programa tem como objetivo qualificar as pessoas com deficiência e apoiá-las na inserção no mercado de trabalho. Além disso, promove o acesso a cursos de educação profissional e tecnológica para atender com recortes de gênero, etnia e maturidade, além de requalificação profissional.

Desse trabalho já resultaram quatro cursos de formação adaptados para pessoas com deficiências intelectual, física, auditiva ou visual: operador de microcomputador; montador e reparador de microcomputadores; mecânico de manutenção de motocicletas; e mecânico de manutenção de motores ciclo Otto (utilizados em carros de passeio). Trezentos docentes foram capacitados para atuarem nesses cursos e outros 300 para lidar com alunos com Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), como síndrome de Asperger, por exemplo, e deficiência intelectual. Há também 22 livros didáticos desenvolvidos nessas áreas.

As vagas oferecidas dentro do Pronatec, porém, não são restritas a esses cursos. Quando o interesse é por outras opções, grupos de apoio local – formados por equipes técnicas e pedagógicas do SENAI e de entidades parceiras – atuam para propiciar a inclusão nas aulas. Eles são responsáveis, por exemplo, por criar práticas pedagógicas que garantam a participação e o aproveitamento no curso.

De acordo com Adriana Barufaldi, a maior dificuldade ainda é informar as pessoas com deficiência sobre as vagas. Ela acredita que o plano do governo federal Viver sem Limites, que incluiu essa parcela da população como público do Pronatec, vai melhorar essa realidade. “Conseguimos aproximar entidades como o SENAI, responsável por oferecer cursos, de organizações governamentais ou não que reúnem a necessidade de formação das pessoas com deficiência”, diz.

Confira abaixo o número de vagas nos estados e pelo CETIQT:

Alagoas: 639

Amapá: 145

Amazonas: 73

Bahia: 100

Espírito Santo: 2.300

Goiás: 1.200

Maranhão: 352

Mato Grosso: 3.640

Mato Grosso do Sul: 38

Paraíba: 100

Paraná: 1.619

Rio de Janeiro: 78

Rio Grande no Norte: 150

Rio Grande do Sul: 101

São Paulo: 394

Santa Catarina: 2.225

Tocantins: 88

CETIQT: 697

TOTAL: 13.736 vagas

Por Ismalia Afonso

Do Portal da Indústria

Motocilcista cego bate recorde mundial de velocidade

Stuart Gunn é o cego e deficiente físico mais rápido do mundo em uma motocicleta.

O escocês de 39 anos de idade bateu o recorde de velocidade no sábado, quando atingiu 268 km/h, em North Yorkshire, no norte da Inglaterra.

"Estou em êxtase. É Absolutamente fascinante", disse Gunn à mídia local.

Ele superou o recorde anterior estabelecido, de 264 km/h, obtido em 2003 pelo também cego e ex-soldado britânico Billy Baxter.

O pai do piloto, Geoff Gunn, acompanhou o filho durante a prova, e o guiou através de um sistema de intercomunicação.

Divulgação

Stuart Gunn é o cego e deficiente físico mais rápido do mundo em uma motocicleta

Stuart Gunn é o cego e deficiente físico mais rápido do mundo em uma motocicleta

UM ATAQUE SURPRESA

A história de Stuart Gunn é de superação.

Há 11 anos, ele ficou gravemente ferido em um acidente de moto que o deixou parcialmente paralisado. Anos mais tarde, convulsões relacionadas ao acidente o deixaram cego.

Surpreendentemente, ele decidiu que a melhor coisa a fazer seria subir novamente numa moto, e conduzi-la o mais rápido possível.

Quando, no final do ano passado, Gunn se preparava para bater o recorde de velocidade, ele sofreu uma agressão.

Ele foi atacado de surpresa em sua própria casa.

O piloto contou à BBC que estava esperando pelo correio quando abriu a porta e um homem o atacou, cortando seu rosto antes de roubar seus pertences.

Gunn disse que o incidente o deixou abalado, mas que estava determinado a conquistar o seu objetivo.

MENSAGEM POSITIVA

O piloto contou que no sábado o vento era tão forte que ficou surpreso ao ouvir que ele havia conseguido quebrar o recorde.

"Espero que isso mostre que ser cego, ou deficiente físico, não significa que uma pessoa deva alterar ou limitar sua vida", Gunn disse à jornalistas locais.

Em sua conta no Twitter, o escocês escreveu um "Whoooohaaaa!" para celebrar a vitória que selou uma grande conquista e representou um novo momento em sua carreira como motociclista.

Fonte: http://f5.folha.uol.com.br/humanos/2013/08/1329438-motocilcista-cego-bate-recorde-mundial-de-velocidade.shtml

RS: cadeirante morre ao cair de ônibus

Uma empresa de ônibus de Gravataí (RS), na região metropolitana de Porto Alegre, foi condenada a indenizar a mulher e a filha de um cadeirante que morreu após cair de um veículo da companhia. A 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou a empresa Sociedade de Ônibus Gigante LTDA (Sogil) a pagar R$ 135,6 mil às familiares do homem - R$ 67,8 mil para cada uma, por danos morais e materiais.

O incidente ocorreu em 2008 - o cadeirante tentava descer do ônibus com a ajuda de um acompanhante, mas caiu na via. Ele sofreu várias lesões e foi hospitalizado, mas morreu no dia seguinte.

A mulher e a filha da vítima entraram com uma ação contra a empresa Sogil pedindo indenização por danos morais e materiais, além do pagamento de uma pensão mensal. Elas alegaram que o motorista agiu contra as normas de segurança e não prestou socorro. A companhia, por sua vez, alegou que o incidente ocorreu por culpa do cadeirante e da pessoa que o acompanhava.

Em primeira instância, o juiz Rodrigo de Souza Allem, da Comarca de Gravataí, condenou a Sogil a indenizar as familiares da vítima, mas negou o pedido de pagamento de pensão. Tanto as autoras quanto a empresa recorreram da decisão ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, mas o desembargador Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil manteve a condenação determinada anteriormente.

O magistrado considerou que, "se a empresa não disponibilizou um veículo adaptado, deveria ter proporcionado, no veículo disponibilizado, segurança ao passageiro, mediante orientação e treinamento a seus prepostos". Além disso, testemunhas afirmaram que o ônibus ainda estava em movimento quando o motorista abriu a porta.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/rs-cadeirante-morre-ao-cair-de-onibus

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Com síndrome rara, mulher tenta se amputar e deseja ser paraplégica

Apesar de não ter nenhum problema nas pernas, uma americana optou por viver a vida de uma portadora de deficiência física. Chloe Jennings-White deseja tanto se movimentar sempre em uma cadeira de rodas que tenta há anos arrecadar dinheiro para pagar um médico que a torne paraplégica. Desde a infância, a americana tentou por diversas vezes se ferir o suficiente para paralisar permanentemente seus membros inferiores, mas nunca conseguiu. As informações são do Daily Mail.

Chloe, 58 anos, sofre da rara desordem de identidade da integridade corporal (DIIC), uma síndrome que faz o paciente querer amputar uma ou mais partes perfeitamente saudáveis do corpo. Em 2010, a americana encontrou uma médico que se prontificou a ajudar ela a se tornar uma deficiente física ao cortar seus nervos ciático e femoral ao preço de 16 mil euros.

"Pode ser que eu nunca consiga pagar por isso, mas eu sei, de verdade, que não vou me arrepender se um dia eu puder", afirmou Chloe, uma pesquisadora da respeitada Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ela nasceu em Salt Lake City, no Estado americano de Utah, com o extremamente raro transtorno psiquiátrico que a faz querer ser amputada por opção. Os portadores da DIIC não aceitam um ou mais de seus membros, e desejam se livrar deles.

A cientista acredita que ambas as pernas não pertencem a ela e sonha em ficar paralítica da cintura para baixo. "Algo no meu cérebro me diz que minhas pernas não deveriam funcionar, afirma Chloe. "Ter qualquer sensação nelas simplesmente parece errado."

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/com-sindrome-rara-

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

"Metade dos criadores no Vale do Silício é autista"

Escritora, intérprete do raciocínio animal e inventora da máquina do abraço, a cientista americana Temple Grandin, que sofre do mal, enumera gênios que, na sua avaliação, têm traços de autismo. Steve Jobs, Einstein e Van Gogh são alguns deles

Juliana Tiraboschi

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A psicóloga e doutora em ciência animal Temple Grandin, 65, é uma das maiores especialistas em manejo e bem-estar de animais para abate no mundo. Dá aulas na Universidade do Colorado (EUA) e presta consultoria para fazendas e abatedouros. Temple também é autista. Até os quatro anos, ela não emitia uma palavra. Teve dificuldades de aprendizado e sofreu bullying na escola. Depois que começou a entender que sua mente funcionava de maneira diferente da de outras pessoas, por meio de imagens e associações entre elas, passou a usar esse conhecimento para desenvolver novos sistemas e equipamentos de manejo humanizado de gado. Hoje, metade das fazendas dos Estados Unidos usa suas criações.

Autora de livros como “Na Língua dos Bichos”, “Thinking in Pictures” e “The Autisc Brain” (Pensando em Imagens e O Cérebro Autista, sem versões em português), a cientista teve sua vida retratada no filme “Temple Grandin”, produzido pela HBO e que acaba de ser lançado em DVD no Brasil. Por telefone, ela conta como controlou a doença, enumera gênios que sofriam do mal e incentiva o surgimento de personagens autistas como Linda, da novela “Amor à Vida”.

ISTOÉ - Como foi para você se ver retratada na tela? Aprovou a interpretação que a atriz Claire Danes faz de você?
Grandin – Gostei muito. O filme se passa nas décadas de 1960 e 1970, quando eu era adolescente e, depois, uma jovem adulta. Assisti-lo foi como entrar em uma máquina do tempo. Claire Danes se transformou em mim. Eu passei um dia com ela e lhe dei os filmes de família mais antigos que eu tinha. Ela também gravou minha fala e fez um trabalho com um treinador de voz. Para deixar o filme ainda mais realista, eu passei muito tempo com o diretor Mick Jackson e a produtora Emily Saines. Ela é mãe de uma criança autista, e era muito importante para ela que o filme fosse bom. A produção mostra muito bem o que é a doença.

ISTOÉ – Do que você mais gostou no filme?
Grandin – Apreciei muito que eles mostraram equipamentos que desenvolvi e como eu comecei meu negócio e minha carreira. Eu realmente construí aquele portão na fazenda da minha tia, que dava para abrir sem precisar descer do carro. E o tanque de mergulho para o gado foi mostrado exatamente como o construí [os tanques são usados para aplicar pesticidas na pele do animal antes do abate. Temple criou um design de tanque que faz com que o gado não se assuste com o movimento externo e caminhe mais calmamente em direção ao abatedouro]. Foi muito realista e correto. 

ISTOÉ – O filme usa inserções de imagens e efeitos para tentar mostrar como a sua mente funciona de um jeito diferente. É um retrato preciso?
Grandin – Sim, é assim que minha cabeça funciona. E eles também mostraram bem meus problemas sensoriais e dificuldades sociais. Gosto muito da parte em que um dos meus professores me pede para pensar em sapatos e eu me lembro, em imagens, de todos os sapatos que já tive na vida.

ISTOÉ – Quando você percebeu que era diferente das outras pessoas?
Grandin – Foi um processo gradual. Até por volta de vinte anos, eu acreditava que todo mundo pensava em imagens, como eu. Não havia livros sobre autismo para eu ler. Aos poucos, conversando com os outros, fui percebendo que não era assim. Ao fazer pesquisas para um de meus livros, eu entrevistei algumas pessoas. Eu pedia para elas pensarem em igrejas, por exemplo, e fiquei chocada em perceber que os outros veem na mente uma imagem genérica e vaga. Quando eu penso em igreja, vejo construções específicas, que eu já vi na vida. Fui percebendo que, quando desenhava equipamentos, eu podia vê-los funcionando em minha mente.

ISTOÉ – Em que circunstâncias você notou que podia entender a maneira de pensar dos animais?
Grandin – Quando fui trabalhar com gado. Logo que me formei na faculdade, percebi o que os assustava, vi que eles empacavam quando viam uma sombra, um raio de sol, uma poça de lama, imagens refletidas ou casacos pendurados nas cercas. Para mim era óbvio, mas as outras pessoas não percebiam isso. 

ISTOÉ – Você acredita que tem uma conexão especial com os bichos?
Grandin – Eu acho apenas que os entendo porque meu modo de pensar também é sensorial. Animais não sabem falar. Eles pensam em imagens, sons, cheiros e tato. Alguns dos melhores treinadores de cavalo ou outras pessoas que lidam com animais que conheço são levemente autistas, têm dislexia, déficit de atenção ou alguma dificuldade de aprendizado ou de leitura. Elas usam menos palavras, seu pensamento é muito menos verbal. O autismo também é um contínuo. Metade das pessoas que trabalham no Vale do Silício, gente que inventou os computadores, cai no espectro do autismo. Elas não são muito sociáveis e são muito inteligentes. Acredito que Steve Jobs podia ter Síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista. Hoje os médicos estão começando a mudar os critérios e considerar autismo e Asperger uma coisa só. Albert Einstein não falou até a idade de três anos. Muitas clínicas o diagnosticariam como autista.

ISTOÉ – Quais outros cientistas, artistas ou personalidades você acha que podem ter sido autistas?
Grandin – Talvez Van Gogh, Gregor Mendel e Thomas Jefferson. Van Gogh era socialmente estranho quando criança. Mendel também. E, quando ele se sentiu entediado no monastério, começou a fazer experimentos com ciência. Jefferson era pouco sociável e muito metódico e tinha algumas manias.

ISTOÉ – Uma de suas criações é a “máquina do abraço”, que pressiona o corpo e funciona como um substituto do contato humano para quem não o tolera. Foi observando sistemas de contenção de gado que você teve a ideia de construir o equipamento?
Grandin – Sim, tive essa ideia no rancho da minha tia. Ainda tenho uma máquina, mas ela quebrou, e agora eu abraço pessoas de verdade, então não preciso mais dela.

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(Foto: Rosalie Winard)

ISTOÉ – Como foi o seu processo de aproximação das pessoas?
Grandin – O problema é que eu era extremamente sensível. Quando você abraça alguém, se sente bem. Comigo a sensação era tão intensa que eu não podia tolerá-la. Era como um maremoto para mim. Gradualmente, usando a minha máquina, com a qual eu podia controlar a intensidade do abraço, fui me dessensibilizando. A máquina me treinou para tolerar os abraços reais.

ISTOÉ – A sua fobia social está sob controle?
Grandin – Sim. O filme me mostra na época em que sofria de uma terrível ansiedade social, antes que eu começasse a me tratar com antidepressivos, o que venho fazendo há 30 anos. Esses medicamentos fazem diferença para muitos autistas, já que interrompem os ataques de pânico. Hoje a ansiedade está controlada. Também faço exercícios físicos, o que me ajuda bastante. Fiz terapia só quando era criança, porque os médicos achavam que o autismo era um problema puramente psicológico, o que não é verdade. E também tive muitas pessoas que me ajudaram. Há uma cena no filme em que meu chefe joga um frasco de desodorante na minha mesa e manda a secretária dele me levar para comprar roupas novas. Aquilo aconteceu de verdade. Eu vivia suja de trabalhar na fazenda, e tinha de parar de ser uma desleixada. Fiquei chateada quando ele fez isso, mas queria o trabalho e sabia que precisava mudar. Ele fez a coisa certa.

ISTOÉ – Se não fosse pelo autismo, você acha que seria tão bem-sucedida na sua profissão de criar sistemas mais humanizados de manejo animal?
Grandin – Acho que o autismo me ajudou com os animais. Mas o que também me ajudou foi trabalho duro. Quando estudei em um internato rural, durante o ensino médio, eu me dedicava muito a cuidar dos cavalos, limpava oito estábulos por dia. Comecei minha empresa realizando um projeto por vez e fui desenvolvendo minhas habilidades. Aqui nos EUA, muitas crianças são rotuladas como autistas ou disléxicas e não são estimuladas a fazer coisas novas.

ISTOÉ – Tem algum projeto seu do qual você se orgulhe mais?
Grandin – Um dos que mais teve impacto é um sistema de avaliação e auditoria de bem-estar animal que desenvolvi para abatedouros. Ele mede coisas simples, como o quanto o gado vocaliza, ou seja, muge, ou com qual frequência os animais caem. Sei que esse sistema é usado no Brasil também. Também me orgulho dos equipamentos de contenção de gado. E gosto muito do tanque de mergulho mostrado no filme. Eu estava começando minha carreira. Muita gente achava que eu era estúpida, e o projeto serviu para eu provar o contrário. É por isso que eu digo que é importante estimular as crianças autistas, encontrar um talento — música, escrita, arte, design, animação, computação — e desenvolver essa habilidade.  Minha aptidão para arte e desenho sempre foi estimulada. O que foi muito útil, pois passei a usá-la para criar meus designs.

ISTOÉ – Há um trecho no filme em que sua personagem diz que não queria ir para a universidade porque não entendia as pessoas. Isso mudou?
Grandin – Bom, eu entendo as pessoas muito melhor hoje. Fui aprendendo gradualmente, com novas experiências, e lendo muito. Leio muito sobre diplomacia internacional, que é mais ou menos como as relações sociais. Também amo ler sobre ciência e revistas de negócios, sobre pessoas bem-sucedidas. Quando fui para a universidade, decidi estudar psicologia para me entender melhor. Depois estudei ciência animal.

ISTOÉ - E estudar psicologia ajudou?
Grandin - Sim, mas temos de lembrar que, naquela época (década de 1960), não havia muitos livros sobre autismo. Hoje temos muitos recursos, muito material na internet. Minha maior dificuldade na faculdade foi ser colocada para viver em uma moradia estudantil com outras duas companheiras de quarto. Foi muito difícil, não conseguia dormir nem estudar. Havia muito barulho. Depois me colocaram para morar com apenas uma estudante, e isso funcionou.

ISTOÉ – Quando sua mãe levou você a um médico para avaliar a sua mudez, ouviu que o autismo era causado pela falta de vínculo com a mãe, carência de amor e de atenção. Hoje a cientistas já constataram que essa é uma noção totalmente equivocada. Qual foi o impacto desse diagnóstico?
Grandin – Ela se sentiu muito mal. Eu é que a rejeitava, porque eu não gostava de ser abraçada. Nossa relação foi difícil na infância, mas a minha mãe sempre tentou buscar boas escolas e me estimular a fazer coisas novas. Vejo hoje muitas crianças sendo superprotegidas, pois os pais têm medo de soltá-las no mundo. Não foi o meu caso. Um exemplo aconteceu na minha adolescência, antes de entrar na faculdade. Quando fui passar uma temporada no rancho da minha tia, eu estava com medo. Ao notar isso, minha mãe disse: “Você pode ir por uma semana ou por todo o verão, mas não ir não é uma opção”. Ela tinha um instinto extraordinário de saber até quando devia me pressionar. E também sabia que eu não tolerava surpresas. Então, antes de eu ir para a fazenda, ela me mostrou fotos de lá e conversei com a minha tia por telefone. Outro fator que me ajudou muito a controlar a doença foi o estilo de educação dos anos 1950. As crianças eram ensinadas a ter boas maneiras na mesa e a cumprimentar os adultos, por exemplo. Hoje, as coisas estão muito soltas. Isso prejudica as crianças que sofrem de formas leves de autismo. Elas precisam aprender habilidades sociais.

ISTOÉ – Que outras dicas você dá para pais de crianças autistas?
Grandin – É preciso tomar muito cuidado com estímulos sensoriais. Há crianças que não toleram ir a lugares muito barulhentos ou cheios. Não suportam roupas ásperas ou se incomodam com luzes fortes. Para estes últimos, usar óculos de lentes coloridas pode ajudar, por exemplo. Para lidar com a sensibilidade ao som, um caminho é dar o controle do barulho para a criança. Um exemplo: se a criança tem medo de bexigas, os pais podem deixar que ela estoure os balões e se acostume ao ruído, gradualmente.
ISTOÉ – Você só começou a falar depois dos quatro anos. Que lembranças você tem dessa fase?
Gandin – Lembro de tentar me comunicar e não conseguir. E isso era muito frustrante. Comecei a fazer terapia aos dois anos e meio com dois professores excelentes, que usavam os mesmos métodos aplicados pelos profissionais de hoje. É muito importante que os pais saibam que, se têm uma criança de dois, três anos que não fala, devem começar a trabalhar com elas. Brincar com jogos, cantar músicas, falar as palavras pausadamente e pedir para o filho repetir. Quanto mais cedo começar a estimular, melhor.

ISTOÉ – Você teve muitos amigos na infância?
Grandin – Sim, quando estava com cerca de 10 anos eu tinha amigos, porque eu era muito boa em projetos e arte. Isso atraía as outras crianças, que sempre queriam brincar comigo. Eu comecei a ter problemas no ensino médio, quando as meninas só pensavam em garotos, em namorar. A adolescência foi o pior período da minha vida. Eu tinha alguns amigos com interesses em comum, mas muitos alunos tiravam sarro de mim e me xingavam. Eu cheguei a ser expulsa de uma escola por bater em um garoto. A faculdade foi melhor, mas ainda tinha problemas sociais.

ISTOÉ – Há uma novela sendo transmitida no Brasil atualmente que mostra uma personagem autista (Linda, de “Amor à Vida”, interpretada por Bruna Linzmeyer). É sempre benéfico o fato de programas populares tratarem do tema?
Grandin – Sim, é ótimo que estejam fazendo isso. Mostrar esse tipo de personagem para o maior número possível de pessoas diminui o desconhecimento e os preconceitos. Espero que meu filme se torne tão popular quanto as novelas no Brasil.

Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/314667_METADE+DOS+CRIADORES+NO+VALE+DO+SILICIO+E+AUTISTA+?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

Funad divulga cronograma de cursos para inserção de deficientes no mercado de trabalho

Entre as capacitações, estão informática, desenho e marcenaria

A Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (Funad) abre, na manhã desta segunda-feira (19), a programação de cursos do segundo semestre de 2013. A abertura constará de uma aula inaugural  no auditório Jimmy Queiroga, a partir das 9h. A aula inaugural tem o objetivo de explicar aos 150 inscritos, que são usuários da Funad e passam por processo de reabilitação, o conteúdo programático dos cursos e estimular a interação entre reabilitadores e usuários.

A Funad vai oferecer neste semestre sete cursos de iniciação profissional: informática, encadernação, marcenaria, depilação, manicure, desenho e artesanato. A carga horária é de 100 horas e as aulas acontecem na Coordenadoria de Treinamento, Produção e Apoio Profissionalizante (Corpu) até dezembro de 2013. Ao final, os alunos receberão certificação, e os que apresentam-se aptos são encaminhados ao mercado de trabalho.

No processo de inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, a Funad realiza visitas às empresas, que são obrigadas pela Lei Federal 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas, a absorver pessoas com deficiência. “O trabalho é muito importante porque a Funad não se configura como um órgão fiscalizador, mas como parceiro que tem contribuído para que as pessoas com deficiência tenham o direito ao trabalho respeitado, e também para as empresas que têm esse banco de dados à disposição delas. Basta contatar com a Funad, que faz o recrutamento e encaminhamento”, disse a  coordenadora Cynthia Menezes.

A partir de 2011, a Funad intensificou os indicadores de inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Enquanto em 2009 foram inseridas 87 pessoas, em 2011 o número pulou para 184. No primeiro semestre deste ano, a Funad inseriu 260 pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e as perspectivas são de que até dezembro o número dobre. A atual gestão já conseguiu inserir quase 700 pessoas nas empresas.

Fonte: http://www.paraibatotal.com.br/

Tratamentos podem dar maior autonomia a pessoas com autismo

 

Doutor Drauzio Varella mostra principais métodos de tratamento e que uma ajuda bem direcionada pode melhorar a vida de todos ao redor.

Como lidar com os sintomas mais graves, como a agressividade de pessoas com autismo? Essa é uma preocupação comum a muitas famílias que convivem com esse transtorno. E, principalmente: é possível dar um mínimo de autonomia a essas crianças? O doutor Drauzio Varella mostra que autismo tem tratamento.

Dependência dos pais
No dia em que Hyandra, a caçula da família, completou 9 anos, os pais, Kelly e Silvio, prepararam a casa para a festa.

O entra e sai de pessoas perturba o irmão mais velho de Hyandra. Idryss, de 15 anos, tem uma forma grave de autismo.

Idryss não fala. Com frequência, morde a mão e a gola da camiseta, comportamento repetitivo que piora quando ele fica nervoso. Mudanças na rotina podem ser desagradáveis para pessoas com autismo. Por mais que o pai tente, Idryss não se acalma. O menino exige atenção constante.

Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento de Idryss foi igual ao dos outros bebês. O drama da família também atinge a filha mais nova. Hyandra não tem autismo, mas sofre com a falta de atenção dos pais.

Algumas manifestações do autismo exigem tanta atenção que levam a família ao desespero. Todos passam a viver em função da criança, em tempo integral. Família nenhuma está preparada para enfrentar um problema dessa gravidade sem receber orientação especializada.
No terceiro episódio da série, o Doutor Drauzio Varella fala dos principais métodos de tratamento do autismo. E como é possível tornar o mundo mais acessível a eles.

O autismo modificou radicalmente a rotina da família de Kevin.  Reginaldo, o pai, chegou a trocar de emprego para ficar mais tempo perto do filho.

Ele comprou um carro e começou a fazer anúncios pelas ruas do bairro. A mãe, Vera, vai o tempo todo atrás, tomando conta do menino.

Os pais não veem outra solução a não ser satisfazer as vontades de Kevin. É o que acontece também quando eles permitem que o menino tome banho toda hora. Será que essa é a melhor maneira de lidar com os comportamentos repetitivos, comuns no autismo?

“Quando eu percebo que, quando eu me bato, me mordo, bato a cabeça na parede, pai e mãe imediatamente deixam de fazer o que fazem para me socorrer, eu tenho a chave para ele, eu estou dizendo: ‘quando você quiser minha atenção, basta se machucar’. E, como qualquer um de nós, você também repetiria incessantemente a mesma coisa que te traz uma recompensa. Estar abraçado ou contido pelos pais pode ser uma recompensa e eu acredito que ele esteja fazendo isso a todo momento”, explica o doutor Salomão Schwartzman.

Como a família do Kevin, os pais de Idryss mudaram de vida em função do filho. Eles passaram a trabalhar em casa. Kelly instalou uma máquina de costura em um canto da sala. Ela faz toalhas de mesa que o marido, Sílvio, vende.

Idryss não desgruda do pai. Cuidar de uma criança com autismo pode ser uma carga imensa. Em certos casos, o transtorno impõe tantas limitações que um simples passeio no parque se mostra impraticável. Esse dia a dia às vezes se torna sufocante.

“Você já passa a tomar atitudes superprotetoras, você começa a, sem querer, entrar na doença do filho. Eu diria que algumas famílias com filhos com autismo ou alguma outra condição crônica, acabam também se tornando autistas, porque passam a viver em função daquela condição e não aprendem a forma correta de você tentar evitar os comportamentos inadequados, inserir essa criança no mundo, na medida do possível”, avalia Schwartzman.

Como as alterações que levam ao autismo ainda são mal conhecidas e o transtorno é incurável, existe um número muito grande de tratamentos que prometem bons resultados. Muitas dessas terapias não têm comprovação científica.

Glúten
Crianças com autismo às vezes são extremamente seletivas para se alimentar. Chegam a limitar o cardápio a apenas um tipo de comida. É mais uma atitude que a terapia comportamental tenta desestimular. Muitas famílias acreditam que cortar o glúten da dieta dos filhos alivia os sintomas do transtorno. Glúten é a proteína encontrada em cereais como trigo, cevada, centeio e aveia.

Na casa do Renato, sempre há duas opções de refeição. Ele e os dois filhos com autismo não comem nada com glúten.

Os especialistas argumentam que não há comprovação científica de que o glúten tenha influência nos quadros de autismo.

Tratamentos
Em São Paulo, a AMA, Associação de Amigos do Autista, oferece tratamento gratuito, em convênio com o governo estadual, para pessoas com o transtorno.

Na AMA, as crianças realizam uma lista de atividades organizadas em painéis. É o método "Teacch".  O objetivo é dar um mínimo de independência, ensinando as tarefas simples do dia a dia.

Os alunos aprendem a arrumar a cama, escovar os dentes, amarrar os sapatos. A cada acerto, a criança pode fazer algo que goste.

Os pais de Idryss contam que ele melhorou bastante com a terapia comportamental.

Outro exemplo de aprendizado que ajuda a melhorar a comunicação é o método PECS. As crianças juntam cartões para formar frases.

Lucas é uma das crianças atendidas pela AMA. Ele tem um tipo mais brando de autismo, diferente dos casos de Kevin e Idryss. Até recentemente, essa forma do transtorno era conhecida como síndrome de Asperger.

Os portadores de Asperger não apresentam deficiências intelectuais graves. Eles são capazes de se expressar, muitas vezes com uma linguagem formal, rebuscada, e geralmente têm um talento direcionado para uma área específica.

Este ano, os médicos abandonaram essa denominação. Agora, a síndrome de Asperger é considerada apenas mais uma manifestação do espectro do autismo.

Depois de receber o diagnóstico de autismo, a família levou Kevin para a AMA. Kevin passou por uma avaliação. Apesar do diagnóstico tardio, a terapia comportamental ainda pode ajudar o menino.

Mas, infelizmente, Kevin vai ter que esperar. A AMA está sobrecarregada. As oportunidades de tratamento gratuito não estão ao alcance da maioria das famílias Brasil afora.

“É um dos principais problemas de saúde pública da infância. Se você imaginar que 1% da população tem isto, você necessita de uma estrutura extremamente complexa e abrangente. E escute, eu tô falando de São Paulo, Drauzio. Você sai daqui e vai aí para Norte e Nordeste, você não encontra nada em algumas cidades”, destaca Schwartzman.

É obrigação do Estado atender às pessoas com autismo. Desde 2012, uma lei determina que o transtorno receba o mesmo atendimento destinado a outros tipos de deficiência mental.

As famílias que têm crianças com autismo devem procurar os CAPS, Centros de Atenção Psicossocial. Mas eles não estão presentes em grande parte dos municípios brasileiros.

Lucas
E aí a pergunta é: faz o diagnóstico, levanta uma ansiedade brutal, e você não tem como atender essas pessoas? Nesses casos, o desenvolvimento das crianças depende exclusivamente da dedicação das famílias. Dedicação como a de Paula, mãe de Lucas, que criou uma cartilha para que ele se acostume com o que vai encontrar fora de casa.

Lucas já aprendeu a andar sozinho na rua. Ele entendeu que não pode atravessar a rua quando o sinal estiver aberto para os carros. Mesmo com a rua livre, Lucas espera pacientemente.

Agora, a mãe, Paula, está ensinando o filho a andar de ônibus sozinho e a manter a calma quando ela não está por perto. Paula mostra pontos de referência para que Lucas não perca o ponto de parada.

Ele aprendeu no computador e nas viagens com a mãe quais são os pontos de referência que deve observar. Vinte minutos depois, chega ao ponto final. E os pais esperam por ele.

No próximo episódio, vamos acompanhar a retomada de uma história de amor. Os pais de Idryss finalmente encontram um tempo para namorar. Nossas escolas regulares estão preparadas para receber crianças com autismo? Vamos mostrar também que há espaço no mercado de trabalho para quem apresenta o transtorno.

Fonte: http://g1.globo.com/fantastico/quadros/autismo-universo-particular

domingo, 18 de agosto de 2013

Escritor premiado de Ribeirão Preto descobre aos 41 anos que é autista

 Diagnóstico veio após autor ter publicado 3 obras e vencido 2 concursos. Cristiano Camargo diz que força de vontade o fez superar as dificuldades.

Escritor premiado de Ribeirão Preto descobre aos 41 anos que é autista

Com o cabelo bem penteado, blazer e roupa social alinhados e um tratamento cordial, Cristiano Camargo, 50 anos, abre a porta da casa em que mora com a mãe em Ribeirão Preto (SP) para mais uma entrevista entre tantas que já concedeu. Com cinco livros publicados e três prêmios literários em 38 anos de uma carreira que ele começou aos 12 anos, o autor se destaca pela sensibilidade e criatividade que emprega em suas obras. Mais do que se esforçar para contar boas histórias, o escritor é exemplo para muitos por ter superado as dificuldades de ser autista do tipo asperger, síndrome que só descobriu que possuía aos 41 anos, quando já tinha três publicações e vencido dois concursos.

O choque inicial de descobrir ser asperger transformou-se em inspiração para o livro mais recente, publicado no ano passado. “Autista com muito orgulho – a síndrome vista pelo lado de dentro” é a primeira obra de não ficção de Camargo, que relata um pouco de sua história e o que se passa na vida do autista. A publicação e o trabalho de ativismo na defesa de pessoas com a síndrome renderam ao autor neste ano o prêmio do Movimento do Orgulho Autista, entregue na Assembleia Legislativa de Brasília (DF), onde ele compôs a mesa de debates e discursou no evento.

A descoberta
“Eu considero uma benção ter sido diagnosticado tarde. Sem saber, eu fui superando sozinho, quando eu fui diagnosticado já tinha superado praticamente tudo”, relata Camargo.

Foi durante uma viagem internacional que o pai de Camargo, na época um pesquisador de Farmacologia e Bioquímica da USP, desconfiou que o filho, então com 41 anos, poderia ser autista. Ao ler o livro “O estranho caso do cachorro morto”, de Mark Haddon, em que o protagonista apresentava o distúrbio, o pai notou a semelhança da personagem com o filho.

O pesquisador passou o livro a Camargo e marcou uma consulta em São Paulo com um psiquiatra. O médico realizou o exame e confirmou o diagnóstico de asperger.

O transtorno asperger não atinge a capacidade de aprendizado, mas prejudica a interação social e o comportamento do portador. Para explicar como o autista vê o mundo, Cristiano Camargo criou a hipótese que nomeou de “processo de amadurecimento asperger”, no qual o portador vai evoluindo e se tornando mais sociável e independente. O caminho para isso passa por três fases.

Na primeira fase, Camargo explica sob a ótica de sua vida, que a criança cria o “mundo interno de fantasia”, onde inventa suas histórias e interage dentro de si com um imaginário que comanda. A segunda etapa é nomeada pelo autor de “a fase dos dois infernos” quando o contato com a realidade e a confusão com o que é fantasiado geram uma perturbação mental e faz com que a pessoa tenha uma visão desvalorizada de si. “Na cabeça do autista imaturo a realidade é um inferno porque ela não corresponde ao que ele vê no mundo de fantasia interno dele, onde ele mesmo cria as regras, seus personagens e rege tudo isso como se fosse um maestro e tem poder de vida e morte.”

É nesse momento que, segundo ele, o asperger enfrenta o maior desafio: interagir com o mundo real. “Se a pessoa decide começar a visitar a realidade, como a maioria das crianças autistas fazem, ela vai começar a interagir na realidade, a entender, mas é uma época de muito conflito em que ela é obrigada a se virar e dominar esse conflito entre a realidade e a fantasia e distinguir uma da outra”, explica.

O último estágio é o “Amadurecimento”, quando o asperger se torna produtivo e independente e consegue conviver com a sociedade. “Ela aprende a usar o mundo interno de fantasia como uma ferramenta para se dar bem na vida através da criatividade, para buscar novas soluções para os problemas”, conclui.

Ser arperger ajudou a criatividade
Saber visitar esse mundo interno de fantasias e retratá-lo em textos foi um trunfo que Camargo aprendeu a usar desde cedo. Na escola, vibrava quando os professores passavam redações. Leitor assíduo, começou com o “Livro da Selva”, de Rudyard Kipling, passou por obras Monteiro Lobato, Jack London e clássicos da literatura infantil. Junto com o gosto pela leitura veio a vontade de escrever.

“Quando criança eu adorava as redações, principalmente tema livre. Foi fazendo redações do mesmo tema, juntando tudo e formando uma coleção delas que eu fiz o meu primeiro livro.”

A história “Inesperado Salvador” foi escrita a mão por ele aos 12 anos. Uma amiga da família datilografou os manuscritos e enviou para o concurso Círculo do Livro. O prêmio veio com a publicação da obra em uma coletânea em 1979.

O resultado surpreendeu a família. “Meu pai ficou muito surpreso, de ver a qualidade da história. Era a primeira vez que eu estava escrevendo, então ele não tinha ideia de que eu tinha essa vocação literária.”

Depois veio a obra “Jornada ao Vale Deslumbrante”, publicada em 1989. “Mistério do Grande Urso”, de 1997, lhe rendeu no mesmo ano o prêmio de publicação na coletânea “Melhores escritores de São Paulo”. Com “Automato e outras histórias”, de 2005, Camargo conquistou menções honrosas e o primeiro lugar na categoria livro do prêmio Arthur Bispo do Rosário, em 2009.

“Acredito que isso [ser portador da síndrome] acrescenta uma sensibilidade maior aos textos. As pessoas autistas têm uma ferramenta muito importante, que é o mundo interno de fantasias. Autistas e as outras pessoas utilizam o mundo interno de fantasias de maneiras diferentes”, afirma Camargo.

Um fator importante para o desenvolvimento, Camargo adere ao apoio dos pais, principalmente após o diagnóstico, mas ele lamenta que muitos autistas não tenham esse suporte. Ele afirma que é fundamental os familiares, pedagogos e terapeutas trabalharem juntos para tornar a pessoa com o transtorno mais rapidamente inserida na comunidade e independente.

“Muitos pais e mães quando recebem a notícia ficam achando que isso é um tipo de sentença de morte social, isso não é verdade. Eu sempre digo, o autismo e a asperger são progressões alternativas globais do desenvolvimento. A asperger faz parte desse gradiente que vai do mais fraco ao mais severo, ela progride positivamente, para melhor durante toda a vida do indivíduo para que ele supere, se torne produtivo, sociável.”

Sonhos, planos e frustrações
Hoje escritor, Camargo chegou a cursar três faculdades, mas não terminou nenhuma. Foi aprovado em estatística na UFSCar, e fez biologia e tradução de inglês em uma faculdade particular de Ribeirão Preto. O gosto por línguas – ele fala inglês e tem noções de francês e italiano – veio de quando morou nos Estados Unidos, de 1979 a 1981, e de 1998 a 1999.

Ele se orgulha de dirigir diariamente seu carro vermelho por Ribeirão e está animado com as negociações para publicar quatro livros até o meio do ano que vêm. Para este ano, a fábula infanto-juvenil de conscientização ecológica “Homem mau, Lobo bom” já está programada. Esta é apenas uma das 165 histórias de autoria dele que estão prontas e aguardando apenas por uma editora interessada.

A única frustração que sente é a de não ser pai. Camargo é divorciado e não teve filhos com a ex-mulher no casamento que durou cinco anos. O escritor diz que seu maior sonho é adotar uma garotinha. Para quem acha que a asperger pode ser uma barreira, ele já tem a resposta.

“O asperger e o autismo não são doenças, a verdadeira doença é o preconceito, a intolerância, a discriminação, a segregação social”, finaliza.

    Fonte: g1.globo.com

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