sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A INCLUSÃO COMEÇA NO PRIMEIRO OLHAR



(Texto em Português de Portugal)

Uma das questões que se coloca aos docentes portugueses prende-se com a prática educativa em relação a crianças portadoras de deficiência no ensino regular. Muitos sentem dificuldade em abordar a questão e frequentemente querem saber: ? "O que fazer com aquele menino que tem determinada deficiência?"

Se pudesse responder de uma maneira muito simplista diria que para educar uma criança com deficiência na escola regular é necessário perceber que se trata de uma criança como qualquer outra e só depois olhar a deficiência que transporta. Esta resposta parece uma banalidade romântica e espevita até os comentários mais acérrimos dos docentes que recusam aceitar ter um olhar diferente. Mas muitos professores têm dificuldade em olhar para um aluno portador de deficiência como uma criança que aprende, cresce, sente e ri como qualquer outra, ou seja, não conseguem promover a sua educação da mesma maneira que promoveriam se essa criança não tivesse aquele diagnóstico.

Não conseguem agir como agem com as outras crianças. E afinal bastaria isso. Esta forma de ver estes cidadãos através do filtro das suas "incapacidades", leva muitos professores e responsáveis pela educação, a defenderem uma relação diferente e um ensino diferente, com técnicos diferentes, por vezes até, em sítios diferentes. Por isso, sempre que o assunto está relacionado com a educação de um aluno com deficiência, o caso passa para a esfera do tratamento, da compensação e da reabilitação, em vez de ficar na educação. A escola, neste caso, não tem problema em assumir-se como incompetente e em não valorizar aprendizagens e actividades, que para os outros alunos considera fundamentais, mas para estes passam a não ser, porque são portadores de uma deficiência.

-Um aluno dito normal pode aprender a atacar os sapatos nos balneários da aula de educação física, ou a cortar com faca no refeitório; mas a criança com deficiência necessita de uma terapeuta ocupacional num local próprio.

-A um aluno dito normal contam-se histórias, lenga-lengas, e desenvolvem-se actividades de promoção da linguagem; os outros necessitam de uma terapeuta da fala para isso.

-Qualquer aluno pode andar infeliz, deprimido na escola ou ter problemas sócio-familiares; o aluno com deficiência precisa sempre de um psicólogo, mesmo estando bem... porquê?.. porque é deficiente.

-Um aluno dito normal pode frequentar uma escola com poucos recursos; o aluno deficiente só pode estar na
escola regular se houver muitos recursos, mesmo que ninguém saiba bem que recursos seriam esses e qual a sua utilidade... apenas se sabe que terão de ser muitos... e não existem.

-Quando um aluno sem deficiência começa a ter dificuldades de leitura e escrita, o professor da turma avalia as sua competências e carências na comunicação, quando as mesmas dificuldades se manifestam num aluno portador de deficiência chama-se um especialista para fazer essa avaliação.

-Quando um aluno dito normal sente dificuldades, tem um Plano de Acompanhamento com estratégias de pedagogia diferenciada na sala de aula; o aluno com deficiência é catalogado através da CIF e tem um Currículo Alternativo ministrado individualmente e em sítio próprio.

-Um aluno dito normal não pode estar sem o seu professor e fora da turma em tempo lectivo; o aluno com deficiência pode não estar na sua turma, ou sequer na sua escola.

-Qualquer criança necessita, antes de mais, de uma educação adequada, no seu grupo, com o seu professor. É por isso, fundamental que todos os professores tomem consciência de que sabem muito mais do que aquilo que pensam e/ou dizem. É o professor da turma que tem o papel mais importante na educação destas crianças e não qualquer outro especialista ou técnico. Basta fazer aquilo que tão bem faz: ensinar todos e cada um de acordo com a sua individualidade, no âmbito das suas áreas curriculares. Reduzir o número de alunos por turma, ou promover as parcerias, são medidas mais inclusivas do que colocar técnicos especialistas.

Retirar a um aluno o direito de estar na sua turma e a ter acesso a um ensino adequado, porque é portador de uma deficiência, está muito perto de ser um acto de segregação. É preciso saber traçar uma linha entre as eventuais necessidades individuais específicas e a exclusão devida ao preconceito. Muitas vezes ambas se confundem, e, vezes de mais, o empolamento da primeira está a promover a segunda.

Por isso, quando me perguntam como se promove a Inclusão, eu respondo: ? Tratando todos os alunos como pessoas normais e a escola pública como o local de aprendizagem onde os alunos com deficiência devem ter acesso a tudo o que teriam, caso não tivessem nascido assim. Basta deixar de olhá-los através dessa condição

Fonte: a Página da Educação www.apagina.pt
Autor desconhecido
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