Quando uma criança nasce com problemas inevitavelmente passa a ser um estranho na família, até que se assimile a situação. Fazer o luto pelo filho ideal significa que todo aquele investimento imaginário em relação a uma pessoa que está a caminho cai por terra! Uma decepção! Neste processo de entender que aquela criança não atenderá o desejo dos pais e familiares é que se estruturam fantasmas. É preciso refazer a vida acolhendo este novo ser. O problema não é exatamente ser deficiente ou ter alguma síndrome, mas sim a fantasmática que se constrói em torno disto.
No entanto , as crianças especiais a exemplo das que possuem síndrome de Down, ou com retardo mental são crianças amáveis e que possuem um lugar definido na sociedade, nas adaptações curriculares, na cultura em geral. À parte o preconceito de alguns, não há mistério em trabalhar e incluí-los, já que há um número imenso de técnicos e técnicas capazes de orientar os familiares e acolher estes pequenos. Assim, as síndromes não apresentam maiores problemas além da lentidão na aprendizagem e de serem crianças diferentes, uma vez que possuem um lugar definido na cultura. A dificuldade maior, segundo estudiosos do assunto, é quando estas crianças apresentam uma psicose associada ao problema genético.
A criança que apresenta psicose possui atitudes radicalmente diferentes associadas a uma incontrolável agressividade. Diante destes quadros, equipes de profissionais e pais caem numa perplexidade paralisante. Se já é difícil elaborar um luto de um filho ideal, pior ainda quando a elaboração do mesmo fica interditada por alguma razão. Inúmeras vezes, os pais prostrados diante dos diagnósticos catastróficos, ficam impedidos de elaborar o luto do filho idealizado, de aceitá-lo como ele é , e então sem poder falar do afeto, estabelece-se a psicose. O caos familiar se instala!.Quantas famílias se desestruturam neste momento! O sentimento de fracasso e impotência impedem o acesso afetivo ao filho deficiente e vice-versa. Construída a fantasmática aterrorizante e persecutória, o mundo parece pesado demais !
É comum na nossa cultura valorizar os técnicos e o diagnóstico, dando um peso exagerado a isto e desvalorizando os pais enquanto seres humanos. Os pais passam a ser pais de manual. Perdem a capacidade de acessar os sentimentos e deixar circular o amor entre eles e o filho que nasceu com dificuldades. Assim, faz parte da luta pensar em quais são os efeitos nos pais em relação ao confronto constante com uma realidade que ao mesmo tempo atordoa e surpreende? Quais os efeitos na criança do olhar que por vezes denuncia os sentimentos dos adultos? O que significa mesmo a inclusão? A inclusão na vida deve obedecer a lei fundamental da alteridade ou seja, deve assegurar o direito que regulariza a convivência das diferenças.
Não se pode perder as possibilidades de criar alternativas para incluir este sujeito que impõe a diferença por si só. Abrir espaço dentro de nós mesmos para entender e aceitar! Aí está a verdadeira inclusão: dentro do coração!
Dra. Magda Mello
Supervisora do Núcleo de Estudos Sigmund Freud
Supervisora do Núcleo de Estudos Sigmund Freud
Sobre o "Blog" : maravilhosa ação e sensibilidade da criação deste espaco,onde todos - sem excessão - poderão se expressar, trocar experiências, trocar informações, divulgar boas práticas com crianças especiais, onde muitas já estão adultas, divulgar centros de apoio para os diversos tipos de síndromes e/ou outras causas de necessidades especiais e principalmente,sermos humanos na essência e caridosos com próximo.
ResponderExcluirLembro-me da quando nos foi dada a notícia de nossa filha e o quanto já se passou; lembro da sensibilidade e também da insensibilidade de profissionais ligados na área da saúde; lembro de pessoas que se diziam próximas e que se distanciaram, como também dos que se aproximaram; lembro da luta com os planos de saúde; lembro-me do nosso desconhecer e da desinformação; lembro das tentatativas de descobrir o diagnóstico; lembro da necessidade de comunhão ainda maior do casal;lembro-me da abdicação e doação da minha mulher e mãezinha especial que se tornou; lembro-me da busca de força e do poder de doação; lembro das noites e dias, das crises, das internações; lembro dos olhares de vida da minha filha e trambém dos momentos onde pareciam que a luz estava se apagando; tenho outras lembranças, muitas lembranças destes 19 anos e meio(inicialmente nos informaram que teria no máximo 4 anos de vida) de muita emoção e posso declarar que aqueles sonhos iniciais de um casal para os chamados "filhos normais" se transformaram em uma vida "especial", um olhar diferente para o mundo. Acredito na capacidade de superação, respeito as religiões e doutrinas, acredito na Fé, acredito em Deus, acredito na energia emanada por "Ele", a qual foi, é e será a força de nossa família. Parabéns pela iniciativa e obrigado pelo espaço criado.
Nota: Acredito que um conceito de Fé é a resposta que damos a Deus.
Obrigada pela mensagem, seu testemunho e ainda pela descarga de energia para resgatar a força daqueles que muitas vezes se sentem impotentes e desanimados, para mim são todos pais e crianças já vencedores! Parabéns!
ResponderExcluirCosmo e Rafaela