Autismo: falta de informação motiva profissionais a pesquisar o tema
O autismo (ou transtorno do aspecto autista) é um transtorno que afeta uma em cada mil crianças em todo o mundo. Sem uma causa definida – não tem marcadores biológicos objetivos, como variações genéticas – o problema também não é facilmente reconhecido, pois não há traços físicos que indiquem o transtorno (ao contrário de outras síndromes, como a de Down). A falta de comunicação e de contato social são os maiores indicadores de que a criança possa sofrer desse transtorno.
“A avaliação normalmente é feita após os 36 meses de idade, pois é quando os pais notam alguma diferença no comportamento dos filhos e o encaminham para algum especialista, como fonoaudiólogas – pois observam o comprometimento da fala – ou neurologistas”, explica Julianna Matteo, psicóloga e pesquisadora do tema, que trabalha junto ao Grupo de Saúde Mental da Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), ligado ao Projeto Distúrbios do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), e liderado por Francisco Asumpção, especialista no transtorno.
Comunicação afetada
As principais áreas afetadas nas crianças com autismo é a comunicação e a interação social. “As crianças autistas se isolam, não se comunicam efetivamente e têm grande dificuldade de manter contato visual com outras pessoas. O próprio nome ‘autismo’ quer dizer isso: em si mesmo, ou seja, uma pessoa que se isola no seu próprio mundo”, diz Julianna.
Outras características desses indivíduos são estereotipias – maneirismos – bastante conhecidas da maioria das pessoas: movimentos motores repetitivos sem função, como balançar o tronco ou as mãos. “Esses maneirismo causam algum bem-estar nesses indivíduos, que os repetem constantemente”, explica a especialista. Outras características apontadas por Julianna é a falta de medo – eles não pressentem o perigo de alguma ação iminente, assim como parecem não sentir dor –, a agressividade contra si mesmo ou contra terceiros e, dependendo do indivíduo, hiperatividade ou hipoatividade acentuada.
Nível intelectual também é afetado
“Cerca de 80% dos indivíduos com autismo também têm algum déficit intelectual”, observa Julianna. Em compensação, também há casos em que o nível intelectual é acima da média. Nesses casos a memória é excepcional, mas focada em assuntos de interesse específico. “Essa variação do espectro autista é chamada de Síndrome de Asperger”, explica. Mas mesmo com a inteligência acima da média, os problemas de comunicação ainda são presentes nesses indivíduos.
Desafio em pesquisar o assunto
A complexidade do assunto e a demanda desse público específico de pacientes com autismo, e seus cuidadores, levou os profissionais da Avape a reunir uma equipe multidisciplinar buscando uma melhor compreensão sobre o tema. A ideia é fomentar a pesquisa sobre o tema e, consequentemente, auxiliar a população. Um dos principais trabalhos é a validação – adaptação e avaliação – de escalas usadas em outros países para diagnosticar o transtorno.
“A principal ideia do grupo é estudar o autismo, um dos transtornos mais difíceis de serem diagnosticados, devido à inexistência de marcadores biológicos e à frequente combinação com outros diagnósticos, tanto na parte teórica quanto na prática”, afirma Claudio Gomes, médico assessor clínico da Avape.
Benefícios para a população
Para a população com autismo, o principal benefício desta parceria é obter um diagnóstico correto e precoce na medida em que se ampliam as possibilidades de aplicação de testes e inventários, além de um melhor direcionamento para o tratamento e prognóstico. Já para os profissionais envolvidos, a problemática proposta pelo grupo contribui com a divulgação do tema, pois o maior acesso às informações colabora com o aperfeiçoamento e conhecimento de instrumentais de avaliação, bem como de diretrizes para o tratamento.
Um dos resultados provenientes da parceria entre a Avape e a USP é uma cartilha para auxiliar pais e cuidadores no diagnóstico e entendimento do autismo. O manual expõe as principais características de diagnóstico do transtorno que podem ser observadas pelos pais e cuidadores desde a primeira infância. “A história aborda o que é o autismo e como diagnosticá-lo precocemente”, explica Gomes.
A cartilha será entregue para famílias e cuidadores de autistas atendidos pela Avape e também será disponibilizada na internet para download na página da Organização (www.avape.org.br). As próximas edições falarão dos modos de tratar, estimular e incluir o paciente com autismo na vida familiar e social.
por Enio Rodrigo - UOL
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