quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CASAS DE PACIENTES COM DOENÇAS NEUROLÓGICAS PRECISAM DE DESIGN ESPECIAL



Publicação norte-americana alerta para a necessidade de adaptações em nome da segurança e do conforto. Degenerativos, os males comprometem funções motoras e musculares dos doentes

Paloma Oliveto

Publicação: 24/11/2009 09:12 Atualização: 24/11/2009 10:05

Quando um paciente recebe o diagnóstico de alguma doença neurológica, as primeiras preocupações são com remédios e tratamentos. Poucos se lembram que, além da alteração da rotina — que certamente vai incluir mais consultas médicas —, é preciso mudar, também, a casa. Devido às consequências dos diversos males incluídos nessa categoria, como Alzheimer, Parkinson e distonia, que provocam a degeneração gradual dos neurônios, há comprometimento das funções motoras e musculares, além da possibilidade de demência. Com isso, a composição dos ambientes precisa de adaptação. “Tem sido minha experiência, não só nos Estados Unidos, mas internacionalmente, que a arquitetura não entendeu ainda completamente a relevância de um design especial para famílias de pessoas com problemas neurológicos”, disse ao Correio o professor da University of Virgina Nathan Zasler.

Especializado em neuroreabilitação, Zasler foi convidado pela revista especializada NeuroRehabilitation para coordenar uma edição extra da publicação, voltada apenas para o design de lares de pacientes neurológicos. Por causa da importância do tema, a editora IOS Press disponibilizou o download gratuito da revista (em inglês), que pode ser feito no endereço http://iospress.metapress.com/content/w73627vu76q2/?p=feba6288943942a982f6a0a2e0082e61π=0.

“Embora a capacidade individual dos pacientes não mude como resultado do design, as habilidades deles, sim. Ao redefinir o ambiente e selecionar diferentes produtos, a qualidade de vida pode aumentar”, defende a arquiteta Sharon Joines, do Departamento de Desenho Industrial da North Carolina State University, uma das autoras dos artigos publicados pela revista. Ela lembra que pacientes com distúrbios neurológicos costumam ter complicações com mobilidade, memória e atividades motoras, entre outras, e essas mudanças afetam coisas simples do cotidiano, como tomar banho, cozinhar e se vestir. “Isso pode aumentar o estresse não apenas do paciente, mas de toda a família”, afirmou ao Correio.

Por isso, ela defende que a arquitetura seja baseada no princípio do design universal, conceito criado no Estados Unidos e também chamado design total na Europa. A filosofia é que o uso do espaço deve contemplar todos, independentemente de serem sadios ou terem alguma deficiência, levando sempre em consideração o conforto e a facilidade de manipulação — no caso de móveis e objetos — por parte dos moradores. De acordo com Sharon Joines, o design universal evita estigmas e preconceitos, já que não se trata de uma adaptação para pessoas com deficiência, mas uma forma de fazer com que elas e qualquer outro morador ou visitante se sintam à vontade e confortáveis. Ou seja, a casa não vai lembrar um hospital ou centro de fisioterapia, mas parecerá um local funcional e agradável.

Como exemplo, a arquiteta cita as portas de abertura automática. Elas não são exclusivas para deficientes, mas os beneficiam, ao mesmo tempo em que também são funcionais para quem não usa cadeiras de rodas nem tem problemas motores. Outra adaptação simples é o uso de dispenser automático para a liberação de sabonete líquido, já usado amplamente em espaços públicos, como shopping centers.

Atenção
Especializados em arquitetura e gerontologia na University of Southern California, Victor Regnier e Alexis Denton escreveram um artigo para a revista, especificando quais os locais da casa precisam receber atenção especial (veja infografia). Para eles, trata-se também de promover mais qualidade de vida, além de evitar acidentes como quedas e incêndios. “Cinco temas parecem resumir as principais áreas de pesquisa, especialmente quando a pessoa está afetada psíquica e cognitivamente. Eles dizem respeito à capacidade funcional, bem-estar emocional, orientação, segurança e estimulação sensorial”, afirmam os especialistas no artigo.

Regnier e Denton defendem que o design interior precisa ser arquitetado cuidadosamente, de forma que seja estético e antropométrico ao mesmo tempo. “O nível de iluminação necessita ser mais forte, os móveis precisam ter descanso para os braços e as cadeiras da sala de jantar precisam de rodinhas, caso sejam pesadas”, ensinam. De acordo com os especialistas, os arquitetos devem dar atenção especial às cores. “Muito ou pouca pode ser incômodo, mas o balanço correto pode fazer o espaço parecer convidativo e confortável”, dizem.

Eles lembram que pessoas com problemas neurológicos frequentemente sofrem com tremores ou falhas no aparelho motor, e acabam caindo no chão. Por isso, é importante instalar carpetes, que absorvem o impacto da queda, e pisos feitos de material especial, de forma que protejam os ossos.

Tecnologia
O professor Tony Gentry, do Departamento de Terapia Ocupacional da Virginia Commonwealth University, diz que hoje a tecnologia ajuda bastante pessoas com problemas neurológicos, pois, além de tornar o ambiente mais funcional, contribui para a autossuficiência dos moradores. Por outro lado, é uma grande aliada da segurança. Ele explica que o tema “casa inteligente” foi cunhado na década de 1990, quando Bill Gates, o fundador da Microsoft, construiu seu próprio computador para controlar a “casa do futuro”, com sistemas de monitoramento automático para ajustar iluminação e temperatura, entre outras coisas. “Muito foi feito no sentido de a casa parecer se adaptar aos seus ocupantes, com luzes e sons que ‘magicamente’ eram acionados quando as pessoas mudavam-se de ambiente. Mas a tecnologia usada para desenhar as casas inteligentes já existia havia pelo menos 40 anos, de forma a ajudar pessoas com deficiência”, contou ao Correio.

Entre os benefícios das casas inteligentes, Gentry destaca os interruptores de luz automáticos, alarmes que detectam fumaça, alimentadores automáticos para animais, caixas de remédios com alarme e fornos que ligam sozinhos. O especialista lembra, contudo, que a maioria desses produtos ainda são caros e pouca gente dá atenção a eles. “Por exemplo, pesquisas mostram que o uso de caixas de pílulas que emitem alarmes quando está na hora de tomar o remédio aumentam a adesão ao medicamento (muitos esquecem de tomá-los). Cinquenta por cento dos idosos usam algum tipo de porta-remédios, mas apenas 2% aderiram aos que têm alarmes”, diz.

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Fonte: http://www.informesaude.com.br/component/joomrss/?height=500&width=100%25&task=viewid&id=4174

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