quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Policiais do Senado barram entrada de deficientes convidados para cantar

A Polícia do Senado impediu nesta terça-feira que 28 jovens com deficiências físicas e mentais entrassem nas dependências da Casa para participar de uma audiência pública onde fariam uma apresentação musical, como convidados.

Os policiais fecharam duas entradas do Senado com o argumento de que havia a possibilidade de invasão por representantes de movimentos sociais, como quilombolas. Os jovens chegaram a uma dessas entradas no momento em que estavam fechadas e, mesmo após apelos de professores e responsáveis, os policiais não autorizaram o acesso.

O grupo ficou do lado de fora do Senado, na chuva, enquanto assessores do senador Cyro Miranda (PSDB-GO) tentavam negociar a entrada. O tucano foi autor do convite para que o coral formado pelos jovens deficientes se apresentasse na Comissão de Educação, que discutia uma das metas do PNE (Plano Nacional de Educação).

"Eu arrumei o ônibus para trazer os meninos, o nome de todos eles estavam na portaria do Senado numa lista. Como um cidadão é capaz de deixá-los na chuva? Alguns voltaram chorando porque foram impedidos de se apresentar", protestou Miranda.

Responsável pela ida do grupo ao Senado, a professora Sidnéia Veloso confirmou que os policiais impediram a entrada dos jovens --inclusive no momento em que uma aluna pediu para usar um dos banheiros da instituição.

"Todos ficaram sem lanche, sem banheiro e sem água. Ficamos uma hora esperando até as coisas se resolverem, mas nada se resolveu. Aí decidimos ir embora. Havia sete jovens cadeirantes no grupo. Todos voltaram chateados e muito tristes. Um deles disse que nunca vai esquecer essa situação", disse a professora.

Depois dos apelos de assessora de Miranda, a Polícia do Senado sugeriu que os jovens entrassem pela garagem --mas teriam que passar por uma longa escada, o que não foi possível por sete deles serem cadeirantes.

"Deram a alternativa de que viessem pela garagem. Ora, são cadeirantes, pessoas sem mobilidade nenhuma, naquela rampa. Por mais que se dialogasse, por mais que se tivesse o requerimento com o nome de todos eles na portaria, por mais que o Senado tivesse cedido um ônibus para trazer essas crianças, elas foram frustradas", disse Cyro Miranda.

Os jovens integram o coral do Centro de Ensino Especial de Taguatinga, cidade-satélite de Brasília que fica a cerca de 20 quilômetros do Senado.

SINDICÂNCIA

No plenário do Senado, Miranda cobrou explicações do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a ação dos policiais. O senador disse que, se até esta quarta não receber informações a respeito do ocorrido, vai pedir abertura de sindicância e o afastamento do diretor-geral da Polícia do Senado, Pedro Araújo.

"É uma pessoa despreparada. O Senado está sendo mau exemplo. Eu não vou aceitar que as coisas fiquem como estão. Houve falta de bom senso. Esta é a Casa do povo, e nos sentimos, hoje, tremendamente ofendidos, inclusive pelo tipo de truculência e com quem foi feito", afirmou.

Renan disse que o Senado "não coonesta com esses equívocos" e prometeu encaminhar "providências" para reparar o ocorrido.

A Folha procurou Araújo para falar sobre a ação da Polícia do Senado, mas ele não atendeu as ligações. O Senado também não se manifestou oficialmente sobre a atuação dos policiais.

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